Chamada para o dossiê temático “Eduardo Coutinho, 90 anos”

2023-04-03

Para o seu 24º número, a REBECA - Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual presta homenagem a um dos grandes cineastas brasileiros, Eduardo Coutinho (1933-2014), por ocasião de seus 90 anos de nascimento, celebrados em 11 de maio de 2023. Desses, mais de 50 foram dedicados ao cinema e à televisão, entre a realização de ficções e de documentários. Muito produtivo e influente, Coutinho é uma referência incontornável na realização e na reflexão sobre documentários no Brasil. Morto há quase uma década, sua obra permanece e segue suscitando debates.

Em consideração a isso, reunimos o desejo comum de atualizar o corpo crítico sobre sua obra, buscando e provocando novas abordagens, questionamentos e travessias pela rica e extensa produção de Eduardo Coutinho. O que o presente tem a dizer sobre essa filmografia? Uma suposta saturação nos estudos voltados aos seus filmes paira sobre nossas cabeças. Talvez possamos fazer um paralelo recorrendo ao exemplo máximo de “Cabra marcado para morrer” (1964-84), filme a que o cineasta se referia como um “sol frio” (expressão tirada de uma fala de Manoel Serafim a respeito do assassinato de João Pedro Teixeira). Para ele, “Cabra” era luminoso, até demais, coisa que não voltaria a se repetir, e por isso podia se tornar um “sol frio” em sua vida e obra.

De modo análogo, poderíamos estender essa imagem à figura do próprio diretor? Seria Coutinho um “sol frio” sobre sua própria obra? Seus filmes, que revolucionaram sobretudo o documentário brasileiro, pela ênfase na cena do encontro (entre diretor e filmad@s), tendo sido objeto de dedicadas pesquisas nas últimas décadas, teriam se esgotado, não mais instigando, movendo, provocando novos olhares? Acreditamos que não.

Nossa aposta é de que novas travessias possam ser feitas pela filmografia “coutiniana”, renovando sua força política e artística pela abordagem de aspectos negligenciados ou pouco abordados. Como esses filmes se endereçam ao nosso presente, indo ao encontro de inquietações e dilemas hoje prementes? Quais as avenidas de investigação ainda inexploradas para seu cinema, fora da tradição crítica e teórica documentária? E como pensar as fases distintas de sua obra também como diretor, roteirista e até mesmo ator de ficção, profissional da televisão, jornalista, e participante chave de polos produtores de vídeo popular? Pensamos ainda que a atenção à memória dos processos fílmicos e aos arquivos legados por Coutinho podem abrir novas vias de conhecimento e reflexão a partir de sua obra. Que outras gerações de cineastas possuem diálogo direto e buscam atualizar inventivamente o método talhado pelo diretor ao longo da carreira?

Dito isso, procuramos estimular pesquisadores e comentadores a se relacionar criticamente com a obra de Eduardo Coutinho e com a fortuna crítica e intelectual sobre seus filmes, a partir de outros temas, novos aspectos e relações ainda não tratados ou pouco trabalhados sobre vida e obra do diretor, tais como:

- Outras aproximações e abordagens analíticas dos filmes;

- Memória e análise dos processos de realização;

- Pesquisa histórica em arquivos;

- Atenção a momentos menos visibilizados da produção do diretor;

- Exame da influência da sua obra no trabalho de novas e novos cineastas.

 

As submissões devem ser feitas de 03 de abril a 30 de junho de 2023.

O dossiê será publicado no v. 12, n. 2 jul.-dez. (2023) REBECA 24  

Editores convidados:

Cláudia Mesquita (UFMG)

Fábio Andrade (NYU)

Kamilla Medeiros (UFRJ)