Antropofagia e intermidialidade: usos da literatura colonial no cinema modernista brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.22475/rebeca.v6n1.479Keywords:
antropofagia, canibalismo, intermidialidade, hibridismo, tropicalismoAbstract
Obra maior, mas pouco estudada, do movimento tropicalista do final dos anos 1960, Como era gostoso o meu francês (Nelson Pereira dos Santos, 1970-72) recicla os ideais antropofágicos do modernismo brasileiro dos anos 1920, cuja base se encontra na literatura europeia colonial. O enredo aparentemente linear do filme versa sobre um francês devorado por índios tupis no século XVI, ao estilo do relato autobiográfico do aventureiro Hans Staden que teria escapado por pouco de destino semelhante em viagem ao Brasil. Mas a tessitura do filme é na verdade uma colagem de materiais diversos no melhor estilo tropicalista, incluindo não apenas citações do texto de Staden mas também os desenhos que ilustram a edição de 1557 de seu livro, além de referências aos escritos de Jean de Léry, André Thevet, Nicolas de Villegagnon, José de Anchieta, Manoel da Nóbrega, e a poemas e receitas culinárias do século XVI. Neste texto, sugiro que a ausência de hierarquia entre esses materiais, alinhavados por um hibridismo de mídias, línguas e culturas europeias e indígenas, confere ao filme um valor político que transcende o derrotismo reinante na esquerda brasileira naquele momento de auge da ditadura militar. Ao lado de outras obras modernistas associadas ao tropicalismo, Como era gostoso o meu francês reivindica para o cinema e a arte de seu tempo o direito de pertencer a um mundo multicultural para além dos limites da nação brasileira, provisoriamente em poder de mãos erradas.
Downloads
Downloads
Published
Issue
Section
License
1. Authors retain the copyright and grant the journal the right of first publication, with the work simultaneously licensed under theCreative Commons Attribution License, which allows the sharing of work with acknowledgment of authorship and initial publication in this journal.
2. Authors are authorized to take additional contracts separately, for non-exclusive distribution of the version of the work published in this journal (e.g. publish in institutional repository or as a book chapter), with acknowledgment of authorship and initial publication in this journal.
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported License.
CC BY-NC-SA
This license allows others to remix, adapt, and create from your work for non-commercial purposes, provided they credit you and license new creations under identical terms.
You are free to:
● Share — copy and redistribute the material in any medium or format.
● Adapt — remix, transform, and build upon the material.
The licensor cannot revoke these freedoms as long as you follow the license terms:
● You must give appropriate credit, provide a link to the license, andindicate if changes were made. You may do so in any reasonable manner, but not in any way that suggests the licensor endorses you or your use.
● You may not use the material for commercial purposes.