Panorama da política pública afirmativa para o audiovisual no Brasil

10 anos do edital Curta Afirmativo (2012-2022)

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DOI :

https://doi.org/10.22475/rebeca.v12n1.892

Mots-clés :

Políticas públicas afirmativas, Audiovisual, Cinema negro, Cinema de mulheres

Résumé

O desenvolvimento de políticas públicas afirmativas visa à correção de assimetrias de ações, recursos e oportunidades em determinado campo. O enfrentamento à desproporção na participação de negros e negras nos papéis de direção e roteiro no cinema brasileiro resultou no primeiro instrumento de política pública afirmativa de fomento audiovisual no Brasil: o Edital Curta Afirmativo, implementado pelo Ministério da Cultura em novembro de 2012. A iniciativa foi questionada judicialmente, porém obteve sentença favorável, estabelecendo referenciais da legitimidade da política afirmativa para o audiovisual no Brasil. Na década subsequente, outros instrumentos e ações foram implementados e arenas mobilizadas em torno da questão. O objetivo desta pesquisa é, à luz do conceito teórico da interseccionalidade, apresentar um panorama dos instrumentos de política pública afirmativa para o cinema e audiovisual no Brasil nos dez anos pós-implementação do Edital Curta Afirmativo (2012-2022). A pesquisa traça uma linha temporal dos instrumentos mobilizados em âmbito federal, evidenciando características de uma gradual remodelagem das políticas públicas afirmativas para o campo. Embora tenha sido possível constatar contribuições significativas para a correção das assimetrias de gênero e raça no audiovisual, a análise, mediada pelas lentes teóricas da interseccionalidade, evidencia que o desenho da política produziu certas distorções em seus resultados, no comparativo com os objetivos pretendidos. Dessa maneira, os achados encaminham à conclusão da necessidade de aprimoramento no desenho da política pública afirmativa para o audiovisual, mediante o endereçamento objetivo da perspectiva interseccional, no que concerne à sobreposição dos recortes de gênero e raça.

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Biographie de l'auteur

Ana Paula Melo Sylvestre, Escola Nacional de Administração Pública

Mestra em Linguística pela Universidade de Brasília (UnB). Doutoranda em Políticas Públicas pela Escola Nacional de Administração Pública. Servidora Pública Federal do Ministério da Cultura. Brasília (DF). Brasil.

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2023-07-30

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