Resistência e Reversibilidade em Straub-Huillet
DOI:
https://doi.org/10.22475/rebeca.v13n2.1125Palavras-chave:
Resistência, Acontecimento, Danièle Huillet, Jean-Marie StraubResumo
Este artigo desdobra a relação entre atos de resistência e reversibilidade temporal no cinema de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub. Apresenta-se o problema da resistência como inseparável daquele do tempo, se cada estado de coisas, contra as quais se embatem as personagens deste cinema, reencena o exercício irrefletido do hábito e da lei. O texto se compõe em três momentos: consideram-se, de partida, procedimentos para uma coalescência reversível entre percepção e lembrança, ou entre a Terra e o pensamento, com a passagem de um plano visível para um plano legível, lapidado com vistas a um olho capaz de desencavar acontecimentos; destacam-se, em seguida, estratégias sonoras de desidentificação e acentuação musical, para uma ênfase na impropriedade da voz e uma comunicação já nem interativa, nem reflexiva; sugere-se, por fim, a inaptidão de modelos analíticos frente à tarefa de traduzir isto que Jacques Rancière chamou de cinema “pós-brechtiano”. Mais que denunciar os limites internos da dialética, este cinema estará rico em atitudes corporais e paisagens lapidares que demandam um trabalho de leitura, de adivinhação, de exploração do tempo enquanto memória já não psicológica ou pessoal, e sim do mundo.
Downloads
Referências
A ANTÍGONA de Sófocles, na tradução de Hölderlin, tal como foi adaptada à cena por Brecht em 1948. Direção: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. Produção: Danièle Huillet, Martine Marignac, Jean-Marie Straub, Regina Ziegler. Alemanha, França, 1992, 100 min., sonoro, colorido.
A MORTE de Empédocles. Direção: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. Produção: Roland Caspary, Jérôme Clément, Rosemarie Gockel, Klaus Hellwig, Margaret Ménégoz, Barbet Schroeder. França, Alemanha Ocidental, 1987, 133 min., sonoro, colorido.
ARAÚJO, M. Straub, Huillet e o ensaísmo dos outros. Devires, Belo Horizonte, v. 10, n. 1, pp. 108-137, Jan./Jun. 2013.
ASPAHAN, P. Composição musical e pensamento cinematográfico: a estética do serialismo no cinema de Straub-Huillet. Tese (Doutorado). 2017., Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.
BARTHES, R. Lo obvio e lo obtuso: imágenes, gestos, voces. Barcelona: Paidós, 1986.
BENJAMIN, W. Sobre o conceito de história. In: LÖWY, M. Walter Benjamin: aviso de incêndio. Uma leitura das teses ‘Sobre o conceito de história’. São Paulo: Boitempo, 2005.
BRECHT, B. Estudos sobre teatro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.
BERGSON, H. La pensée et le mouvant. Paris: Flammarion, 2014.
BLANCHOT, M. A parte do fogo. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
BLANCHOT, M. O livro por vir. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
BLANCHOT, M. O espaço literário. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.
CHION, M. La musica en el cine. Barcelona: Paidós, 1997.
COSTANZO, A. Straub-Huillet: la possibilité d’un monde. Cahiers du GRM [Online], 5, 2014. Disponível em: http://journals.openedition.org/grm/404. Acesso em: 2 mai. 2024.
CRÔNICA de Anna Magdalena Bach. Direção: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. Produção: Gian Vittorio Baldi, Danièle Huillet, Franz Seitz, Jean-Marie Straub. Alemanha Ocidental, Itália, 1968, 94 min., sonoro, preto e branco.
DA NUVEM à Resistência. Direção: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. Produção: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. Itália, Alemanha Ocidental, 1979, 104 min., sonoro, colorido.
DANEY, S. Une morale de la perception (De la nuée à la résistance de Straub-Huillet). La Rampe, Cahier critique 1970-1982. Paris: Cahiers du Cinéma / Gallimard, 1996.
DANEY, S. The Cinema House & the World: The Cahiers du Cinéma Years 1962-1981. South Pasadena, CA: Semiotext(e), 2022.
DELEUZE, G. Cinema 2: A imagem-tempo. São Paulo: Editora 34, 2018.
DELEUZE, G. O que é o ato de criação? In: DELEUZE, G. Dois regimes de loucos: textos e entrevistas (1975-1995). São Paulo: Editora 34, 2016, pp. 332-343.
EN RACHÂCHANT. Direção: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. Produção: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. França, 1982, 7 min., sonoro, preto e branco.
FAURE, E. Introduction à la mystique du cinema. Paris: SHS Editions, 2024.
FORTINI, F. The dogs of the Sinai. Calcutá: Seagull Books, 2013.
FORTINI/CANI. Direção: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. Produção: André Engel, Danièle Huillet, Jean-Marie Straub, Daniel Talbot, Stéphane Tchalgadjieff. Itália, França, 1976, 87 min., sonoro, colorido.
FOUCAULT, M. Le courage de la vérité. Le gouvernement de soi et des autres II. Cours au Collège de France (1983-1984). Paris: Seuil/Gallimard, 2009.
GOFFMAN, E. The presentation of self in everyday life. Edimburgo: University of Edinburgh Social Sciences Research Centre, 1956.
HUILLET, D.; STRAUB, J-M. Writings. Nova York: Sequence Press, 2016.
KANT, I. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
MARTINS, D. C. Huillet-Straub no cinema moderno: autoria como primado do material e espectatorialidade libertária. Galáxia, São Paulo, v. 47, 2022, pp.1-22.
MEAD, G. H. Mind, self and society: from the stand point of a social behaviorist. Chicago: The University of Chicago Press, 1972.
METZ, C. A significação no cinema. São Paulo: Perspectiva, 1977.
MOISÉS e Aarão. Direção: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. Produção: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. Alemanha Ocidental, Áustria, 1975, 107 min., sonoro, colorido.
MONTAIGNE, M. de. Os ensaios - Livro 1. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
OS NÃO-RECONCILIADOS. Direção: Jean-Marie Straub. Produção: Jean-Marie Straub, Danièle Huillet. Alemanha Ocidental, 1965, 53 min., sonoro, preto e branco.
PARK, R. E.; BURGESS, E. W. The city: suggestions for the investigation of human behavior in the urban environment. Chicago: The University of Chicago Press, 1984.
RANCIÈRE, J. As distâncias do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.
RELAÇÕES de Classe. Direção: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. Produção: Klaus Hellwig, Claude Nedjar, Jean-Marie Straub. Alemanha Ocidental, França, 1984, 128 min., sonoro, preto e branco.
RIVETTE, J. Rivette: Texts and Interviews. Londres: British Film Institute, 1978.
SANTAELLA, L. A assinatura das coisas. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1992.
SIMONDON, G. A individuação à luz das noções de forma e de informação. São Paulo: Editora 34, 2020.
TURQUETY, B. Danièle Huillet, Jean-Marie Straub: “Objectivists” in Cinema. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2020.
UM CONTO de Michel de Montaigne. Direção: Jean-Marie Straub. Produção: Arnaud Dommerc. França, Suíça, 2013, 33 min., sonoro, colorido.
VIDAS Secas. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Produção: Nelson Pereira dos Santos, Luiz Carlos Barreto. Sino Filmes, 1963. VHS, 103 min., sonoro, preto e branco.
VIRILIO, P. Guerra e Cinema: a logística da percepção. São Paulo: Boitempo, 2005
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Demétrio Rocha Pereira

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.