Objetificação da mulher e pathosformel do olhar masculino em Iracema - uma transa amazônica
DOI:
https://doi.org/10.22475/rebeca.v13n2.1153Palavras-chave:
Escopofilia, Pathosformel, Mulher, Olhar, ImagensResumo
Em meio a uma realidade brasileira precária e pouco conhecida da região amazônica, diante da hostilidade da natureza e da exploração impiedosa dos homens, este trabalho busca pensar os modos de objetificação da mulher no cinema em Iracema - uma transa amazônica (1974) a partir do trabalho de teóricas feministas do cinema e do conceito de escopofilia desenvolvido por Sigmund Freud e por elas utilizado. Procura, também, a partir da realidade misógina e patriarcal com que Iracema é tratada no transcorrer do filme, pensar esta obra como sobrevivência do olhar masculino e objetificante - tema que John Berger (2022) evidenciou nos anos de 1970 ao comparar pinturas europeias do século XV e campanhas publicitárias. Recorremos ao conceito de sobrevivência a partir das reflexões de Aby Warburg, no que diz respeito ao conceito de Nachleben, termo de difícil tradução e que se relaciona por sua vez com suas reflexões sobre a fórmula de páthos ou pathosformel, para pensar um pathosformel do olhar masculino em Iracema - uma transa amazônica. Essa escolha teórico-metodológica nos ajuda a assinalar o sentido da criação de movimentos e manifestações de críticas e resistências à preponderância massiva e industrial desse modelo de produção do olhar, não apenas no período em que o filme foi produzido e veiculado, mas também em nossa contemporaneidade, 50 anos depois. Evidenciamos, ainda, como no advento das redes sociais os modos de construção masculina e objetificante do olhar podem ser encontrados em diversas mídias digitais, como também manifestações de críticas, resistências e contrapropostas que trazem outros modos de se construir o olhar da câmera.
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