A literariedade em Jogo de cena
Uma proposta de relação entre cinema e literatura
DOI:
https://doi.org/10.22475/rebeca.v13n2.974Palavras-chave:
Literatura, Cinema, Literariedade, EstéticaResumo
Jogo de cena acumula comentadores desde o lançamento em 2007. Dentre os trabalhos que mergulharam em sua materialidade, é recorrente a discussão sobre o diálogo do filme com a linguagem cinematográfica e com a do teatro. Menos frequente é a preocupação com o que há de literário nele e em que medida sua literariedade, conceito originado no formalismo russo, contribui para discussões sobre cinema e literatura a partir de uma perspectiva que compreende o social e o histórico como componentes da forma artística. Assim, é feita uma revisão de aproximações mais tradicionais entre cinema e literatura, também são revisitadas algumas das relações entre essas linguagens artísticas na produção de Coutinho e, mais especificamente, em Jogo de cena. Dentre as características destacadas por estudiosos estão: a relação com o espectador/leitor, a aproximação com o ensaio, a proeminência da palavra, o tom poético de depoimentos, a motivação incidental de nomes e o enredamento com o literário pela citação a obras literárias. Em seguida, a noção de literariedade é retomada especialmente no que concerne às características dos gêneros narrativo, dramático e épico. A reinterpretação dessas características sob um ponto de vista sócio-histórico se fundamenta na análise centrada na primeira sequência do filme, exemplificando o mote do longa-metragem que gira em torno de três eixos: entre a forma mercadoria e a artística; entre a ficção e a não-ficção e entre a transparência e a opacidade. Espera-se, assim, contribuir para alargar o alcance do literário e da leitura tanto de obras cinematográficas, quanto teatrais e literárias.
Downloads
Referências
A FALECIDA. Direção: Leon Hirzman. Roteiristas: Eduardo Coutinho, Leon Hirszman e Nelson Rodrigues. Brasil, 1965. 90 min., sonoro, preto e branco.
AGUILERA, Yanet. O jogo do mesmo. Rapsódia, São Paulo, n.12, p. 79-97, 2018. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rapsodia/article/view/153436. Acesso em: 04 fev. 2021.
ALTER, Nora. The essay film after fact and fiction. New York: Columbia University Press, 2018.
ARAÚJO, Pedro Felipe M. de; BAPTISTA, Luis Antonio dos Santos. Ética como jogo de cena. Leitura: Teoria e Prática, Campinas, São Paulo, v. 36, n. 73, p. 105-118, 2018. Disponível em: https://ltp.emnuvens.com.br/ltp/article/view/694/457. Acesso em: 04 fev. 2021.
BALARDIN, Daiane. Entre o jogo e a cena: a hibridização do real e da ficção. Dissertação (Mestrado). Universidade de Santa Cruz do Sul. Orientador Fabiana Piccinin. Santa Cruz do Sul, 2013.
BENTHIEN, Claudia; LAU, Jordis; MARXSEN, Maraike M. The literariness of media art. Nova Iorque: Routledge, 2019.
BERNARDET, Jean-Claude. Jogo de Cena. In: OHATA, Milton (org.). Eduardo Coutinho. São Paulo: CosacNaify, Edições Sesc, 2014. p. 627-636.
BRAGANÇA, Felipe (org.). Encontros: Eduardo Coutinho. Rio de Janeiro: Azougue, 2008.
BROWN, Nicholas. Autonomy: the social ontology of art under capitalism. Durham: Duke University Press, 2019.
CABRA marcado para morrer. Direção: Eduardo Coutinho. Produção: Wladimir Carvalho. Brasil, 1984. 120 min., sonoro, colorido.
CARDOSO, Luís Miguel. Literatura e Cinema: Vergílio Ferreira e o espaço do indizível. Lisboa: Edições 70, 2016.
CHAUÍ, Marilena. Experiência do Pensamento: ensaios sobre a obra de Merleau-Ponty. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
CORSEUIL, Anelise Reich. Literatura e Cinema. In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lucia Osana (orgs.). Teoria Literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá: Editora da UEM, 2003. p. 295-304.
COUTINHO, Eduardo. Palavra e superfície [Entrevista cedida a Felipe Bragança]. In: BRAGANÇA, Felipe (org.). Encontros: Eduardo Coutinho. Rio de Janeiro: Azougue, 2008. p. 180-215.
COUTINHO, Eduardo. O olhar no documentário: carta-depoimento para Paulo Paranaguá. In: OHATA, Milton (org.). Eduardo Coutinho. CosacNaify, Edições Sesc, 2014a. p. 14-21.
COUTINHO, Eduardo. Henry James, uma enigmática comédia humana. In: OHATA, Milton (org.). Eduardo Coutinho. São Paulo: CosacNaify, Edições Sesc, 2014b. p. 96-99.
DONA Flor e seus dois maridos. Direção: Bruno Barreto. Roteiristas: Jorge Amado, Bruno Barreto e Eduardo Coutinho. Brasil, 1976. 110 min., sonoro, colorido.
DURÃO, Fábio Akcelrud. Do texto à obra. Curitiba: Appris, 2015.
DURÃO, Fábio Akcelrud. O que é crítica literária? São Paulo: Nankin, Parábola, 2021.
DURÃO, Fábio Akcelrud; CECHINEL, André. Ensinando literatura: a sala de aula como acontecimento. São Paulo: Parábola, 2022.
EIKHENBAUM, B. A teoria do “método formal”. In: TOLEDO, Dionísio de Oliveira (org.). Teoria da literatura: formalistas russos. 3ª ed. Porto Alegre: Globo, 1976. p. 3-38.
FAUSTÃO. Direção: Eduardo Coutinho. Produção: Banco da Bahia; Banco Nacional do Norte. Rio de Janeiro; São Paulo, 1971, 113 min., sonoro, colorido.
GOMES, Paulo Emílio Sales. A personagem cinematográfica. In: CANDIDO, Antonio (org.). A personagem de ficção. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1974. p. 104-119.
GULLAR, Ferreira. Sobre o filme que não houve. In: OHATA, Milton (org.). Eduardo Coutinho. São Paulo: CosacNaify, Edições Sesc, 2014. p. 328-330.
JOGO de cena. Direção: Eduardo Coutinho. Produção: João Moreira Salles; Videofilmes e Matizar. Brasil, 2007. DVD, 105 min, sonoro, colorido.
LEMOS JUNIOR, Urbano; GOSCIOLA, Vicente. Mulheres no palco: dispositivos fílmicos em Jogo de Cena e As Canções, de Eduardo Coutinho. Tríade, Sorocaba, SP, v. 6, n. 12, p. 23-37, dez. 2018. Disponível em: https://periodicos.uniso.br/triade/article/download/3357/3045/8295. Acesso em: 04 fev. 2021.
LIÇÃO de amor. Direção: Eduardo Escorel. Roteiristas: Eduardo Coutinho, Eduardo Escorel e Mário de Andrade. Brasil, 1976. 85 min., sonoro, colorido.
LINS, Consuelo; MESQUITA, Claudia. Filmar o real: sobre o documentário brasileiro contemporâneo. São Paulo: Zahar, 2008.
MARZOCHI, Ilana Feldman. Jogos de cena: ensaios sobre o documentário brasileiro contemporâneo. Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo. Orientador Ismail Xavier. São Paulo, 2012.
MATTOS, Carlos Alberto. Sete faces de Eduardo Coutinho. São Paulo: Boitempo, 2019.
MOSCOU. Direção: Eduardo Coutinho. Produção: Videofilmes e Matizar. Brasil, 2009. 78 min., sonoro, colorido.
NICHOLS, Bill. Introduction to documentary. 2ª ed. Bloomington: Indiana University Press, 2010.
O FIM e o princípio. Direção: Eduardo Coutinho. Produção: Maurício Andrade Ramos e João Moreira Salles. Brasil, 2006. 110 min., sonoro, colorido.
OLIVEIRA, José Marinho de. Exercícios para Cabra Marcado para Morrer. In: OHATA, Milton (org.). Eduardo Coutinho. São Paulo: CosacNaify, Edições Sesc, 2014. p. 183-211.
OHATA, Milton. Era uma vez um crítico. In: OHATA, Milton (org.). Eduardo Coutinho. São Paulo: CosacNaify, Edições Sesc, 2014. p. 48-54.
OS CONDENADOS. Direção: Zelito Viana. Roteiristas: Oswald de Andrade, Eduardo Coutinho e Zelito Viana. Brasil, 1975. 80 min., sonoro, colorido.
PARANAGUÁ, Paulo Antonio. Cinema Novo. In: RAMOS, Fernão; MIRANDA, Luíz Felipe (orgs.). Enciclopédia do Cinema Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Senac, 2004. p. 144-146.
RAMOS, Fernão Pessoa. A mis-en-scène do documentário: Eduardo Coutinho e João Moreira Salles, Rebeca, nº 1, p. 16-53, 2012.
ROSA, Igor Miguel da Silveira. Jogo de Cena e o dispositivo fílmico de Eduardo Coutinho como construção de uma ética documental. Dissertação (Mestrado). Universidade do Sul de Santa Catarina. Orientadora Ana Carolina Cernicchiaro. Palhoça, 2019.
RÖSELE, Ursula de Almeida. O jogo de cena e a cena documentária: um estudo do filme Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais. Orientador César Geraldo Guimarães. Belo Horizonte, 2011.
SANTO forte. Direção Eduardo Coutinho. Produção: Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP). Brasil, 1999. 80 min., sonoro, colorido.
SCARELLI, Giovana. Os cadernos de anotações de Guimarães Rosa e de Eduardo Coutinho: algumas aproximações com a pesquisa em educação, Perspectiva: Revista do Centro de Ciências da Educação, Florianópolis, v. 39, n. 1, p. 1-19, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/71304. Acesso em: 21 fev. 2024.
SILVA, Alberto da; FREITAS, Gabriela. Verdades e meias-verdades: o encontro no Jogo de Cena de Eduardo Coutinho, Esferas, Brasília, nº 3, p. 21-28, 2013. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/esf/article/view/5125. Acesso em: 04 fev. 2021.
SILVA, Marcel Vieira Barreto. Cinema e Literatura no Brasil: o caso do período silencioso, Lumina, Juiz de Fora, v. 5, n. 2, 2011, p. 1-19. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/lumina/article/view/21001. Acesso em: 04 fev. 2021.
TARDIVO, Renato. Cenas em jogo: a exacerbação da ambiguidade, Significação, São Paulo, v. 43, n. 46, p. 126-144, 2016. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/significacao/article/view/118151. Acesso em: 04 fev. 2021.
COUTINHO, Eduardo; VALENTINETTI, Claudio M. O cinema segundo Eduardo Coutinho. Brasília: M. Farani, 2003.
XAVIER, Ismail. O jogo de cena e as outras cenas. In: OHATA, Milton (org.). Eduardo Coutinho. São Paulo: Cosac Naify, 2013. p. 604-627.
XAVIER, Ismail. A opacidade e a transparência no cinema, Significação, São Paulo, 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZLVF94mZZnI. Acesso em: 21 jun. 2023.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Vitor Soster
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.