Corpos em crise, territórios em disputa

Reflexões sobre o road movie em Iracema - uma transa amazônica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22475/rebeca.v13n2.1150

Palavras-chave:

Cinema brasileiro, Filmes de viagem, Ditadura militar, Road movie

Resumo

O presente texto analisa o filme Iracema - uma transa amazônica (1974), de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, destacando como a obra reflete as tensões e crises ao longo da Transamazônica, no contexto da colonização da Amazônia nos anos 1970. Considerado um marco do gênero road movie no Brasil, o filme é explorado como uma chave interpretativa, especialmente no que diz respeito à jornada como metáfora para transformações internas e externas, tanto dos personagens quanto das paisagens que atravessam. Nesse sentido, o road movie funciona como uma instância narrativa que revela a complexidade das relações entre movimento e estagnação, progresso e degradação, e, sobretudo, a colonização dos espaços marcados por conflitos. Iracema - uma transa amazônica se consolida, portanto, como uma crítica à presença da estrada na representação de paisagens naturais em deterioração. A produção peculiar do filme é abordada tanto por suas instâncias de fabulação quanto por suas impressões de realidade, envolvendo o que está dentro e fora do quadro, o que é mostrado e o que o governo militar tentava ocultar. Como metáfora, a Transamazônica aparece como uma cicatriz no território, enquanto a jornada de Iracema e sua relação com o caminhoneiro Tião Brasil Grande expõem o impacto desse progresso sobre os habitantes locais, especialmente mulheres e trabalhadores marginalizados, cujos corpos, em constante mutação, são marcados pela exploração e violência.

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Biografia do Autor

Régis Orlando Rasia, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor do Curso de Audiovisual da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Brasil. 

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Publicado

2024-12-23

Edição

Seção

Dossiê