Cristais de sangue

Resistência no cinema brasileiro feito por mulheres em uma análise implicada

Resumo

No mesmo ano de 1974 em que Bodansky e Senna filmavam Iracema - uma transa amazônica, período da ditadura civil-militar, Luna Alkalay realizava Cristais de sangue, reunindo um grupo de jovens que burlam a repressão e fazem um filme de absoluta resistência à atmosfera opressiva daquele momento. Ao analisar esta obra, convocamos outro filme, A extração de minérios, um curta-metragem produzido em 1970, pela Agência Nacional, no qual tudo vale em nome do progresso. Com esse movimento, pode-se ver, de um lado, jovens que resistem à repressão da liberdade de buscar novos caminhos, criando artimanhas de sobrevivência, não se interessando em hierarquizar relações, integrando-se ao meio ambiente. De outro, um governo autoritário e não afeito ao diálogo investia na ideia de progresso a todo custo e não se conectava com sua gente, nem com a natureza. Ao aproximar o curta tão díspar, sob uma abordagem analítica que busca encontrar elos que impliquem as obras, exercitamos uma forma que evidencia que todo filme pode se conectar a qualquer outro, sempre resultando em algo. No encontro dos dois filmes aqui propostos, podemos discutir a convivência de programas antagônicos de país, situação que se mantém até hoje. Outros encontros poderiam convidar a outras discussões. Com esse método, se propõe uma maneira revigorada de lidar com filmes realizados por mulheres, evitando que fiquem aprisionados à categoria de “cinema de mulheres”, o que muitas vezes ignora análises mais abrangentes.