As imagens de arquivo como gesto fílmico de Eduardo Coutinho

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22475/rebeca.v12n2.969

Palavras-chave:

Imagens de Arquivo, Eduardo Coutinho, Peões, Greve

Resumo

Este artigo se dedica a analisar a presença e o comportamento das imagens de arquivo no filme Peões (2004), de Eduardo Coutinho. Partimos do pressuposto de que mesmo não sendo o elemento fílmico central pelo qual o diretor ganhou notoriedade, as imagens de arquivo não estão presentes na obra de forma arbitrária, mas pulsam em cada sequência em que aparecem, demonstrando-se parte do modus operandi do diretor consagrado pelos encontros e conversas que estabelecia com pessoas publicamente desconhecidas. Nosso objetivo é desvendar quais os métodos e procedimentos utilizados especificamente em Peões que sugerem as formas com que o filme buscou aproximar cinema e história a partir do testemunho e da experiência dos anônimos envolvidos nas grandes greves operárias do ABC paulista entre 1979 e 1980. Para isso, analisamos as cenas das quais os arquivos fazem parte, dando atenção particular à sua materialidade e constituição narrativa como rastro da experiência particular e coletiva, terminando por entender os próprios arquivos como gestos fílmicos fundamentalmente coutinianos, que longe de significarem somente um capítulo em sua trajetória, demonstram serem uma escolha estética e ética do diretor, que constrói sentidos singulares de memória.

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Biografia do Autor

Marcelo Dídimo Souza Vieira, Universidade Federal do Ceará

Doutor em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor Permanente Associado IV do Programa de Pós-Graduação em Comunicação do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC). Fortaleza (CE). Brasil.

Luana Vitorino Sampaio Passos, Universidade Federal do Ceará

Doutoranda e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC). Fortaleza (CE). Brasil.

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Publicado

2024-01-13

Edição

Seção

Dossiê