Descolonizar a historiografia do audiovisual e cinema brasileiros

a representação e participação indígena, africana e afrodescendente

Auteurs

DOI :

https://doi.org/10.22475/rebeca.v12n2.884

Mots-clés :

Cinema brasileiro, Personagens indígenas, Personagens afro-brasileiros, Filmes indígenas e afro-brasileiros

Résumé

Este artigo é uma tentativa de iniciar uma discussão sobre a necessidade de descolonizar a historiografia do audiovisual e do cinema brasileiros, chamando a atenção para o fato de que o cânone foi criado mediante avaliações e escolhas de filmes e cineastas eurocêntricos, o que acabou por formar uma narrativa branca e, portanto, hegemônica, ainda embutida na estrutura assimétrica do poder colonial e na subsequente subalternização do Outro. O principal objetivo do artigo consiste em contribuir para a conscientização da representação negativa, estereotipada e limitada de personagens indígenas, africanos e afrodescendentes, explicando suas origens. Com isso, visa incentivar estudos mais aprofundados para desenvolver os poucos que temos. Para tal, o artigo traz uma apresentação panorâmica dos estudos existentes, especialmente sobre longas-metragens considerados canônicos que se baseiam nos retratos e nos mitos desenvolvidos na arte e na literatura. Além disso, o artigo aponta para a notória ausência de cineastas indígenas e afrodescendentes na historiografia e na produção, mas indica também o aumento na produção atual e a necessidade de lhe dar mais atenção crítica. Argumenta que para termos uma historiografia descolonial no Brasil seria necessário revisar o cânone e incluir outras epistemologias para futuramente incluir de maneira adequada a produção afrodescendente e indígena.

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Carolin Overhoff Ferreira, Universidade Federal de São Paulo

Doutorado em Ciência do Teatro pela Universidade Livre de Berlim (FU-BERLIN). Pós-doutorado sênior realizado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Professora Associada-Livre Docente do Curso de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Guarulhos (SP). Brasil.

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Publiée

2024-01-13

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