Cinema do reencontro
formas da história no Cabra e na trilogia de Vincent Carelli
DOI:
https://doi.org/10.22475/rebeca.v12n2.1029Palavras-chave:
Cena do reencontro, Fragmento, Elaboração da história, Cinema políticoResumo
Este ensaio parte das situações de “reencontro” em filmes-processo para sugerir um mapa, ainda em aberto, de cotejos entre Cabra marcado para morrer (assim como o filme subsequente A família de Elizabeth Teixeira) e a trilogia de Vincent Carelli (constituída por Corumbiara, Martírio e Adeus, Capitão). Toma-se, para tanto, as cenas de reencontro, seja entre pessoas, seja com as imagens de arquivo, para perceber afinidades e diferenças entre os trabalhos, caracterizando assim dois modos, entre outros tantos possíveis, de um cinema político no Brasil. Se no primeiro modo, tendo sua experiência interrompida, o filme se torna processo, no segundo, os processos, registrados ao longo de anos de militância, se tornam filmes. No primeiro, nascido nas ruínas do Golpe, o fragmento acusa um hiato e produz liames, elaborando a história por meio da dialética entre os dois termos; no segundo, nascido de processos de extermínio, o fragmento é enigma que move um trabalho de tradução e narração, sem deixar de guardar a opacidade da experiência narrada, o que provocaria alargar o conceito avaro e restrito de humanidade, tal como forjado pela modernidade ocidental.
Downloads
Referências
A FAMÍLIA de Elizabeth Teixeira. Direção: Eduardo Coutinho. Brasil, 2014. (65min), color, digital.
ADEUS, CAPITÃO. Direção: Vincent Carelli e Tatiana Almeida. Brasil, 2022. (178 min), color.
ALMEIDA, Mauro. Caipora e outros conflitos ontológicos. São Paulo: Ubu Editora, 2021.
ALVARENGA, Clarisse. Da cena do contato ao inacabamento da história (Os últimos isolados, Corumbiara e Os Arara. Salvador: Edufba, 2017.
ALVARENGA, Clarisse; BELISÁRIO, Bernard. O cinema-processo de Vincent Carelli em Corumbiara. In: VEIGA, R.; MAIA, C.; GUIMARÃES, V. Limiar e partilha: uma experiência com filmes brasileiros. Belo Horizonte: Selo do PPGCOM/UFMG, 2015. p.72-98.
BELISÁRIO, Bernard. Rebobinando a fita: arqueologia do videotape nas aldeias. GIS (USP), São Paulo, v. 7, p. 1-17, 2022.
BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
BERNARDET, Jean-Claude. Vitória sobre a lata de lixo da história. In: OHATA, M. Eduardo Coutinho. São Paulo: Cosac Naify, 2013. p. 465-478.
BRASIL, André. Formas do antecampo: performatividade no documentário brasileiro contemporâneo. Revista Famecos, Porto Alegre, v. 20, n. 3, p. 478-602 , set.-dez. 2013.
BRASIL, André. Retomada: teses sobre o conceito de história. In: Catálogo do forumdoc.bh 2016. Belo Horizonte: Associação Filmes de Quintal, 2016. p. 145-161.
BRASIL, André. Do reencontro: teses sobre o conceito de história. In: Catálogo do forumdoc.bh 2022. Belo Horizonte: Associação Filmes de Quintal, 2022. p. 201-211.
BRASIL, André; CÉSAR, Amaranta; LEANDRO, A.; MESQUITA, C. Nomear o genocídio: uma conversa sobre Martírio, com Vincent Carelli. Revista ECO-PÓS, UFRJ, Rio de Janeiro, v. 20, p. 232-257, 2017.
CABRA MARCADO para morrer. Direção: Eduardo Coutinho. Brasil, 1964-84. (119 min), p&b, 16-35mm.
COMOLLI, Jean-Louis. Carta de Marselha sobre a auto-mise-en-scène. In: COMOLLI, J-L. Ver e poder. A inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2008. p. 81-85.
CORUMBIARA. Direção: Vincent Carelli. Brasil, 2009. (117 min), color.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Devant L’image. Paris: Les Éditions Minuit, 1990.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Memória, história, testemunho. In: GAGNEBIN, J. M. Lembrar, escrever, esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006. p. 44-57.
KRENAK, Aílton. A vida não é útil. São Paulo: Cia. das Letras, 2020.
MARGULIES, Irene. Reenactment and A-filiation in Serras da Desordem. In: MARGULIES, I. In person: Reenactment in postwar and contemporary cinema. Nova York: Oxford University Press, 2019. p. 219-252.
MARTÍRIO. Direção: Vincent Carelli, Ernesto de Carvalho e Tatiana Almeida. Brasil, 2016. (161 min), color.
MENEZES, Fábio. Para que o mundo prossiga: uma análise do cinema-processo de Vincent Carelli na trilogia Corumbiara, Martírio e Adeus, Capitão. 2023. Dissertação (Mestrado em Meios e Processos) – Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2023.
MESQUITA, Cláudia. A família de Elizabeth Teixeira: a história reaberta. In: Catálogo do forumdoc.bh.2014. Belo Horizonte: Filmes de Quintal, 2014. p. 215-225.
MESQUITA, C. C. Entre agora e outrora: a escrita da história no cinema de Eduardo Coutinho. Galaxia, São Paulo, n. 31, p. 54-65, abr. 2016.
MESQUITA, Cláudia. “A ferida que começou a abrir para nunca mais fechar”: Elizabeth Teixeira, militância e maternidade no redemoinho da história. In: ALMEIDA, R.; PEREIRA, C.; MEDEIROS, K. (Orgs.). Cabra marcado para morrer. São Paulo: Faculdade de Educação da USP, 2023. p. 80-101.
SARAIVA, Leandro. “Enfia essa câmera no rabo”. In: CARVALHO, Ana (Org.). Vídeo nas Aldeias 25 anos: 1986 – 2011. Olinda: VnA, 2011.
SARAIVA, Leandro. Cineastas e imagens dos povos – de Cabra marcado a Martírio. Resumo de apresentação na XXIII Socine. 2020ª. Disponível em: https://associado.socine.org.br/anais/2019/18243/leandro_rocha_saraiva/cineastas_e_imagens_dos_povos_de_cabra_marcado_a_martirio. Acesso em: 8 jan. 2024.
SARAIVA, Leandro. Cineastas e imagens dos povos – de Cabra marcado para morrer a Martírio. [S. l.]: Socine, 12 nov. 2020b. 1 vídeo (99min). SOCINE EM CASA - Live 45. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=8ywCt22D4TE. Acesso em: 8 jan. 2024.
SCHWARZ, Roberto. O fio da meada. In: OHATA, M. Eduardo Coutinho. São Paulo: Cosac Naify, 2013. p. 459-464.
XAVIER, Ismail. Indagações em torno de Eduardo Coutinho e seu diálogo com a tradição moderna. In: MIGLIORIN, Cezar. Ensaios no real: o documentário brasileiro hoje. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2010. p.65-79.
XAVIER, Ismail. Prefário à segunda edição. In: XAVIER, I. Alegorias do Subdesenvolvimento: Cinema Novo, Tropicalismo, Cinema Marginal. São Paulo: Cosac Naify, 2012. p. 7-27.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 André Brasil
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.